10 de fev. de 2017

Extraordinário é Deus! O servo de Abraão

Permita-me contar uma história:
Era uma vez um homem que acabara de ficar viúvo.
Seu filho passou a ser órfão.
A mulher que morreu era muito importante.
Ela era motivo de alegria daquela casa.
Naqueles tempos o casamento era arranjado e definia aliança entre as famílias.
O viúvo que já estava velho chamou o servo dele, o que poderia representá-lo melhor e disse:
Ei, venha aqui. Tenho uma tarefa muito importante e só pensei em você para executá-la.
Tenho que encontrar uma noiva para o meu filho mas não pode ser gente desta terra.
O velho tinha feito uma longa viagem e já tinha saído de de Ur com 75 anos (Gn 12.4).
Quando o órfão nasceu seu pai já tinha 100 anos (Gn21.5) e sua mãe (Gn 17.17).
Fato é que o velho que já estava longe de casa a tanto tempo pediu que o servo encontrasse uma noiva para o seu filho lá nas terra de seu pai. Fez isso para que a sua nora fosse, de alguma forma,
parente ou, na pior das hipóteses, diferente dessa gente com quem ele convivia.
O servo aceitou o desafio mas, como era bom de administração perguntou: e se a mulher não quiser vir comigo?
O administrador é quem gerencia recursos financeiros, materiais e humanos de outra pessoa.
Com a pergunta o velho ainda incluiu mais um critério: você não pode levar meu filho! Não quero correr o risco de quebrar o pacto que tenho com Deus.
Pois é. Estou falando de Abraão. Abraão é o 'velho' da história. Nosso pai na fé. O moço é Isaque, o filho da promessa divina. Lembra da promessa?

Então o Senhor disse a Abrão: 
"Saia da sua terra, do meio dos seus parentes e da casa de seu pai, 
e vá para a terra que eu lhe mostrarei.

"Farei de você um grande povo, e o abençoarei. 
Tornarei famoso o seu nome, e você será uma bênção.
Abençoarei os que o abençoarem, 
e amaldiçoarei os que o amaldiçoarem; 
e por meio de você todos os povos da terra serão abençoados".


E Abraão, que já conhecia o Senhor, garantiu que Deus iria ajudar o servo para conseguir a mulher ideal para o casamento. Ainda assim, entendeu que deveria liberar o servo da responsabilidade das escolhas da 'escolhida'. Tudo combinado o servo saiu. Mas tenha calma. Você vai ler o texto e perceber que o servo preparou os animais, a comitiva, os presentes para o momento do encontro. Tudo elaborado, tudo planejado. Chek list pronto, pés na estrada (Gn 24.10).
Depois de uma longa viagem o desafio deveria ser enfrentado. É aí que aprendo quatro princípios na vida deste servo de Abraão.
1. Mesmo no silêncio, mesmo sem saber orar, Deus nos ouve (Gn 24.15)
    Vocês me procurarão e me acharão quando me procurarem de todo coração (Jr 29.13)
2. Algumas vezes, não poucas, o extraordinário está nas coisas simples (Gn 24.15/21)
    Exemplo de Naamã, das bodas de Caná
3. Louvor é consequência. Louvor é resultado de experiência com Deus (Gn 24.26)
    O povo de Samaria que ouviu o testemunha da mulher que encontrou Jesus no poço. "E disseram à mulher: 'Agora cremos não somente por causa do que você disse, pois nós mesmos o ouvimos e sabemos que este é realmente o Salvador do mundo' (Jo 4.42)
4. O plano divino sempre será realizado mas estar inserido nele dá sentido à vida (Gn24.31)
    O apóstolo Paulo percebeu isso e disse: 'pois nós somos cooperadores de Deus; vocês são lavoura de Deus e edifício de Deus." (1 Co 3.9)

Asaph Borba compos:
Tu és Soberano sobre a Terra
Sobre os céus tu és Senhor absoluto
Tudo que existe e acontece
Tu o sabes muito bem, tu és tremendo

E apesar dessa glória que tens
Tu te importas comigo também
E este amor tão grande eleva-me
Amarra-me a ti
Tu és tremendo

Nosso desafio:
Buscar intimidade com o Senhor
Faça a coisa certa; Procure-o com 'coração quebrantado e cotrito' (Sl 51.17); Aguce sua sensibilidade para perceber o extraordinário nas coisas simples; Se você experimenta isso, então louve!!










19 de out. de 2016

Testemunho com lápis cera

Enquanto 'rolava' o Culto na Praça eu achei um 'canto' (não era exatamente um canto mas uma daquelas mesas de concreto) e comecei a 'rabiscar' uma história bíblica. Caneta esferográfica e um pedaço de 'tapume' em mdf. Rabiscando, rabiscando e em meio aos rabiscos uma menina pergunta:
-Tio o que o senhor 'tá' fazendo?
-Desenhando.
-Isso eu sei. Posso ver?
-Claro que pode.
Não passa muito tempo e ela continua:
-Você vai pintar?
-Vou sim mas só depois que acabar o desenho.
-Posso ajudar a pintar? Eu sei pintar direitinho.
Ela viu um bocado de giz de cera sobre a mesa e eu respondi:
-Pode sim. Mas, como é o seu nome?
Ela respondeu e a gente conversou um bocado enquanto pintávamos o desenho (observe a expressividade no azul que está na parte de cima, no céu nesta reprodução). Me encantei. Comecei a contar a história do filho pródigo e ela imediatamente me interrompeu e disse que sabia até uma música daquela história. Ela cantou e contou um pouco da história.
Senti vontade de deixar um desenho com ela. Eliane Almeida logo trouxe uma resma de papel ofício e eu desenhei a pequena menina - vou preservar o nome dela. Quando entreguei o desenho ela, de repente sumiu. Quando percebi tinha um monte de crianças e eu fui fazendo caricatura de cada uma delas. Aí quando o culto acabou fui guardar o desenho. Ela me seguiu 'investigando' os cantos da nossa igreja, que fica bem em frente à praça. Por medo, ou respeito, ainda que eu desejasse, não abracei ela e educadamente a convidei para voltar no domingo.
Ela voltou mesmo e me procurou como 'o tio que desenha'.
Aprendi tanto com essa menina! Ela foi usada por Deus para falar comigo e agora invade minhas orações. Isso tudo incomoda e 'cutuca' à ação.
Ainda ecoa nos meus ouvidos:
-Tio 'cê' vai voltar?
90x70cm giz de cera e caneta esferográfica


5 de set. de 2016

Roda de conversa Odarah 3




Algumas barreiras foram 'impostas' pelo Evangelho de missão, importado da Europa e Estados Unidos.
 A linguagem desses 'gringos' era muito 'elitizada' e a exigência da leitura bíblica afastava os 'indoutos e iletrados'. Como vimos, a liturgia não tinha nenhuma conexão com a nossa cultura.
Até aqui parece que não houve nenhuma contribuição dos Tradicionais neste 'universo evangélico'. Ao contrário do que pode parecer, os Tradicionais conquistaram espaço e imenso respeito na perspectiva cultural de nosso país. Foi graças à perspectiva 'do livro' que escolas foram fundadas e edificadas. Tudo para facilitar o acesso à leitura. A educação musical clássica também foi implementada nas igrejas. Aqui vale a pena parar e pensar que a maioria dos músicos de nossas orquestras já percorreu o ambiente de uma dessas igrejas. O fomento dos cursos superiores e seminários também se deve ao estabelecimento dessa perspectiva religiosa baseado 'no livro'.

'Negro é o teu passado!"
A pergunta que naturalmente surge é: Por que então tão poucos Pentecostais participam do 'movimento negro' e das chamadas 'políticas afirmativas'?
Creio que um dos motivos é a leitura descontextualizada das escrituras e o conhecimento rudimentar do contexto bíblico e histórico. Como vimos, a grande maioria dos irmãos pentecostais não tem interesse de 'mergulhar' no texto bíblico e, em sua maioria, reproduzem o que foi ouvido sem reflexão. Eles aprendem que ser Santo é ser separado e pouquíssimas vezes entendem de que nos separamos. Separados de que? Separados de quem? Deveriam perguntar. Uma pessoa quando se 'converte' está separada do mundo. Mas de que mundo, se a Bíblia nos apresenta, pelo menos três perspectivas distintas deste conceito:
Mundo como conjunto de habitantes (Jo 3.16)
Mundo como valores humanos (Jo 15.19)
Mundo como planeta terra (Sl 24.1)
O segundo problema que vejo é pregação da falsa ideia de que 'todos somos iguais e que dentro da igreja não existe nenhum tipo de discriminação'. Só aceita este discurso quem ignora a realidade de nossa sociedade. Este é um ideal bíblico e não a realidade. A sociedade influencia a igreja e a igreja deveria assumir um papel profético para influenciar a sociedade em que está inserida.
Também creio, por isso deixei o movimento negro, que Jesus nunca nos ensinou a ser, nem a estimular a cultura de gueto. Somos, pelo menos deveríamos ser, o corpo de Cristo sem distinção nenhuma. 
Quero defender estes valores, estes ideais do Cristo a quem sirvo. 
Não ao Racismo!
Não à separação, seja ela qual for.
Não aceito esse papo furado de 'preto com alma branca' em 'tem neguinho que'. Sempre que ouço esse tipo de 'brincadeira', faço questão de afirmar que 'tem neguinho e tem branquinho' também.
Todos pecaram. 
TODOS. 
Todos os que creem podem ser salvos, libertos e transformados. 
TODOS.




'Às vezes o ponto de vista tem certa miopia,
Pois enxerga diferente do que a gente gostaria
Não é preciso por lente nem óculos de grau
Tampouco que exista somente
Um ponto de vista igual

O jeito é manter o respeito e ponto final" Ponto de Vista, Casuarina


Terminei minha participação citando MPB na música do Gilberto Gil. 
Andar com fé eu vou,
que a fé não costuma "faiá"

Que a fé tá na mulher 
A fé tá na cobra co-ral 

Ô-ô 
Num pedaço de pão 

A fé tá na maré 
Na lâmina de um punhal 

Ô-ô 
Na luz, na escuridão 

Todos andamos 'com fé' e o segredo não é ter fé. Creio que o verdadeiro desafio é saber onde colocamos nossaa fé. Escolhi colocar minha fé do Deus que se revela em Jesus Cristo.

Roda de conversa Odarah produção cultural 2

'Meu púlpito é minha prancheta' e o quadro tem sido 'minha muleta'.
Necessito pensar graficamente e a apresentação ilustrada tem me acompanhado nesse trajetória.
1. Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa
Por que será que a mídia e os discursos sobre 'os evangélicos' são tão pesados e vergonhosos dentro de nossa sociedade? De forma muito crítica, creio que há uma intenção política por trás dessa 'massificação' evangélica. Incrível que sejamos milhares os que fazem questão de afirmar: isso não me representa. Não é nesse 'evangecalismo' que eu creio. É claro que não. Não fomos, em momento nenhum chamados de 'os evangélicos' pelo nosso mestre. Jesus também nunca nos chamou de 'os cristãos'. Cristão, como você deve saber (At 11.26), é apelido para os que imitavam a Cristo. A expressão 'evangélico' é uma elaboração americana para revelar os que seguiam o 'Evangelho', as Escrituras. Cristo nos chamou de discípulos, seguidores, alunos. Somos imitadores de Cristo. Sendo imitadores fazemos e nos relacionamos da maneira como o mestre fez e ensinou. Pelo menos deveria ser este o padrão.


Olhe o esquema comparativo. As igrejas Tradicionais (Congregacionais, Batistas, Metodista e Presbiterianos) estão ligados às missões enviadas da Europa e da América que são, na realidade, 'representantes' da Reforma Protestante. 
Tradicionais dão valor à História da Reforma, por isso dão valor a leitura, ao 'Livro' às Escrituras. Valorizam muito mais a mente e a reverência e os seus oficiais devem ter, além do reconhecimento da comunidade o conhecimento bíblico, pelo menos o 'manejo da Palavra da Verdade'. Neste momento era impossível não trazer à fala a forte imagem de meu avô sendo alfabetizado para poder ser ordenado diácono, da década de 70 na Igreja Batista de Vieira Fazenda, dentro da favela do Jacarezinho. Finalmente a liturgia e a música valorizam a reflexão e as músicas acompanhadas de 'instrumento sacro' - órgão.
Num paralelo vertical observamos que os Pentecostais valorizam mais o 'marco revestimento de poder' no episódio narrado no Livro de Atos e profetizado por Joel, no AT. O Poder do Espírito sobre toda carne'. Valem-se mais da experiência do que do 'Registro da revelação'. Usam mais o coração do que mente reflexiva e não há exigência de uma formação ou conhecimento sistematizado e formal. Além de tudo isso qualquer expressão de 'envolvimento com o Espírito' é respeitada e espalhada por toda congregação. A utilização dos instrumentos é livre e a liturgia dá espaço de voz e vez para todos os membros.

'Lá vem o negão"
Olhando o gráfico, creio que fica claro o motivo que 'seduz' os negros, especialmente os menos favorecidos, afastados do acesso à cultura e distantes das expressões clássicas das músicas importadas.

Roda de conversa no Odarah Cultural 1

Vivi uma experiência incomum e inesquecível no último sábado, dia 3 de setembro.
Fui convidado para participar de uma 'Roda de conversa' sobre A RELIGIÃO MAIS PRETA DO BRASIL junto com a mediadora Fabíola Oliveira que é produtora executiva do Odarah Produção Cultural afirmativa e o  Babalawo Ivanir Dos Santos (CEAP - Centro de Articulação de Populações Marginalizadas) 




Começo perguntando: 'QUAL É O GRUPO RELIGIOSO QUE TEM O MAIOR NÚMERO DE INTEGRANTES QUE SE ASSUMEM NEGROS, NO BRASIL?'
(    ) O Candomblé    (    ) A Umbanda    (      ) Os Evangélicos   (      ) Os Católicos

Se você escolheu o grupo dos evangélicos, acertou.
De acordo com o Censo do IBGE de 2010 é massacrante a quantidade de negros nas religiões evangélicas, especialmente no grupo denominado Pentecostal.

IBGE 2010 
População                     190.755.799
Evangélicos                     42.275.440
Umbanda e Candomblé         588.797

Foi fundamentado nesta informação e tantas outras que li o livro, 'A religião mais negra do Brasil - por que os negros fazem opção pelo Pentecostalismo', de Marco Davi de Oliveira, reedidado em 2015, pela Editora Ultimato

Apresentei minha fala em três tópicos:
1. Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa
O objetivo foi 'abrir o saco' e mostrar que existe uma pluralidade imensa no 'saco em que enfiaram 'os evangélicos'.
2. "Lá vem o 'negão'..."
Porque os negros fazem opção pelo Pentecostalismo?
3. 'Negro é o teu passado'
Afinal, se somos tantos, que discurso afasta os negros do movimento de igualdade e quais os desafios para o engajamento?

9 de mai. de 2016

Congresso da Família - VIDA NA REDE

A proposta do Congresso de Famílias deste ano em nossa igreja foi estimularmos à reflexão sobre a influência da Internet, das novas tecnologias e das mídias sociais no ambiente familiar.
Nosso objetivo não foi nem é ‘demonizar’ o progresso tecnológico. Até porque estamos num mundo ‘mergulhado na rede’.
No entanto, a despeito das incontáveis vantagens oferecidas, a ‘grande rede’ traz também, alguns problemas. Podemos ver maus usuários que costumam explorar a internet para perpetrar atos nefastos, criminosos e indesejáveis. Estelionato, pedofilia, ciberbullying e outros crimes, representam apenas algumas das mais variadas infrações que englobam este mundo virtual. Outro problema vivido intensamente tem sido a falta de contato direto entre as pessoas. O mundo tem se tornado virtual. Ninguém vive hoje sem um celular.
Este foi um tempo de excelente oportunidade, bem contextualizada, para destacarmos valores bíblicos, e portanto, valores humanos. Nossa meta foi valorizar a criação divina a ponto de resgatá-la, o que é o propósito da obra de Cristo (2 Co 5.17).
A ‘brincadeira’ gráfica e fonética com a REDE teve como objetivo destacar que não devemos ser ‘dominados’, presos ou controlados pela rede/web mas, mesmo inseridos nela (Jo 17.16), devemos viver de forma abundante (Jo 10.10). Somos pescadores. ‘Pescadores controlam a rede’.
"Navegue mas não afunde!"

Os Cartazes:

 

Fizemos dois cartazes. Um para o Congresso e outro para atividade especial de sábado. Nosso preletor, durante a semana foi o pastor João Melo da primeira igreja batista de Vila da Penha aceitou o desafio e nos abençoou com três palestras intrigantes e cativantes.



  

No sábado à tarde tivemos os pequenos grupos e uma gincana especial. Esta foi uma proposta totalmente nova e, por isso mesmo, a expectativa era grande pela adesão dos membros da igreja. 
Foi muito emocionante observar as crianças se divertindo com brinquedos que não eram eletrônicos - esta foi uma das tarefas compartilhadas durante a semana. Eles interagiram muito bem e descobriram novas alternativas para a diversão em grupo. Além disso o setor infantil abraçou a ideia de desenvolverem o mesmo tema estimulando as crianças a pensarem sobre a 'VIDA NA REDE" dentro o universo delas.
Caminhando para o final da tarde nos reunimos para uma grande Gincana, coordenada pelo Marcílio. Ao final do Congresso apresentamos um novo desafio - O PROJETO PENSE LARANJA e, antes da pizza (também as que as crianças produziram) a 'ginastiquinha'.



Fazendo pizza

Hora da gincana

PG adolescentes com Cassia Borges

subgrupo PG dos adultos - Anna Viveca

subgrupo PG dos adultos - Anna Viveca

subgrupo PG dos adultos - Anna Viveca

subgrupo PG dos adultos - Anna Viveca

PG 3a idade - facilitadora Danielle Medeiros

Ginastiquinha antes da pizza


Grupo de trabalho para o Congresso da Família:
Hudson e Marilia, Marcos e Jaqueline, Alexandre e Eliane, Eli e Beth, Rolant e Christine, Danielle e Helder, Marcio e Bruna, Damião e Dayse, Harley e Raquel, Mario Marcio e Fabiana, Pr. Daniel e Adriana e Pr. Marcelo e Anna






22 de abr. de 2016

Nó direito e o Mario Marcio Verissimo

Ainda estou sob o impacto do falecimento do Mario Márcio Veríssimo. Ouvi, vi e experienciei vários comentários sobre ele e, confesso, não esperava nada diferente. Ele deixou marcas. Marca de alegria, paixão pulsante, paternidade envolvente e vida, muita vida. 
É impressionante perceber como a morte é uma agressão à vida e como a vida insiste em gritar presente mesmo em momentos como estes. Não nascemos para a morte mas somos escravos dela pela condição de pecadores. Mario também deixou marcas em mim. Não dessas experiências que quase entronizam as pessoas com os anjos. 
Marca de verdade é feita com história de dor. Hoje esta marca é uma cicatriz. Não é ferida aberta mas a marca está aqui para denunciar a presença dele e a restauração divina. Nos desentendemos feio. Creio que foi a maior tensão que vivi no espaço eclesiástico. Não foram poucos dias sem conseguir cantar. Gritamos um com o outro, nos ofendemos e, pela instrumentalidade do pastor Novaes, nos encontramos para 'colocar as cartas sobre a mesa'. O encontro foi feio. Saiu faísca pra todo lado. Saí daquele encontro com 'um bico'... Aí, depois de mais uma noite sem sono, comecei a perceber que estávamos discutindo, brigando, quase nos atracando fisicamente e estávamos com o mesmo objetivo. E, mais do que isso, percebi que a gente só briga porque se importa. O que nos incomoda é, de alguma forma, algo nos afeta. O que ignoramos não nos afeta. Tomar consciência disso me fez perceber que o admirava. Antes desse 'entrevero' conseguíamos conversar sobre o desenvolvimento dos meninos, sobre o mistério de ser pai, sobre a administração da saúde diante de doença crônica e até, do por incrível que pareça, sobre futebol. E isto não era nada simples. Eu torcedor do Flamengo e ele, como todo mundo sabe, apaixonado vascaíno. Lembrei disso tudo e percebi que, no fundo, queríamos investir no fortalecimento das famílias, cada um do seu jeito, cada qual sob seu ponto de vista mas os dois com o mesmo intento. 
Naquela noite eu consegui orar. Orar por mim, agradecer pelo Mario e ter coragem de perdoar, abrir mão (isso é complicado...) e pedir perdão. Comecei a perceber que tínhamos muito mais semelhanças do que diferenças. Fiquei mais leve quando falei com ele. Ele, sempre muito verdadeiro, não aceitou as desculpas nem quis falar comigo. Aí vi, de forma muito explicita, que 'passei da conta'. Em nome do zelo, da doutrina, da tradição passei por cima. Passei por cima de um irmão e Deus nunca, nunca me estimulou a fazer isso. Não insisti. Fiquei quietinho e deixei o tempo passar.
Eu não tinha mais problema para orar, nem para cantar mas, de alguma forma, o Mario sempre estava ali em minhas orações. Num domingo, nem sei qual, ele falou comigo de forma bem fria: 'e aí, beleza?" Respondi que não, e emendei logo que não tinha raiva dele. O tempo passou, deixei a coordenadoria da família por dois anos e, quando fui convidado à voltar, falei com ele antes. Perguntei o que ele achava da indicação, ainda disse que necessitava dele e que também desejava ter sua presença, sua paixão e sua alegria contagiante como parceiro neste ministério. Ele, prontamente se dispôs a ajudar.
Hoje, chorando no culto fúnebre e cantando 'você pode ter a casa repleta de amigos, paredes e pisos cobertos de bens...,mas nunca terá a paz que existe lá dentro que não se encontra pra poder comprar, porque esta paz só tem a pessoa que se encontra com Cristo", louvei a Deus pela vida do Mario Márcio, pelo pastor Novaes e, especialmente porque Deus me ensinou muito, muito mesmo através da vida do Mario. Pessoas valem mais. Pessoas são maiores e mais importantes que instituições. Nenhum zelo justifica a falta de amor. Louvei a Deus porque não ficou ferida aberta entre nós. Louvo a Deus porque tive oportunidade de atar um laço e desfazer um nó. A cicatriz está aqui mas ela serve para eu lembrar dele e lembrar que o Senhor me ensinou a perdoar porque eu também recebi perdão.