19 de out. de 2016

Testemunho com lápis cera

Enquanto 'rolava' o Culto na Praça eu achei um 'canto' (não era exatamente um canto mas uma daquelas mesas de concreto) e comecei a 'rabiscar' uma história bíblica. Caneta esferográfica e um pedaço de 'tapume' em mdf. Rabiscando, rabiscando e em meio aos rabiscos uma menina pergunta:
-Tio o que o senhor 'tá' fazendo?
-Desenhando.
-Isso eu sei. Posso ver?
-Claro que pode.
Não passa muito tempo e ela continua:
-Você vai pintar?
-Vou sim mas só depois que acabar o desenho.
-Posso ajudar a pintar? Eu sei pintar direitinho.
Ela viu um bocado de giz de cera sobre a mesa e eu respondi:
-Pode sim. Mas, como é o seu nome?
Ela respondeu e a gente conversou um bocado enquanto pintávamos o desenho (observe a expressividade no azul que está na parte de cima, no céu nesta reprodução). Me encantei. Comecei a contar a história do filho pródigo e ela imediatamente me interrompeu e disse que sabia até uma música daquela história. Ela cantou e contou um pouco da história.
Senti vontade de deixar um desenho com ela. Eliane Almeida logo trouxe uma resma de papel ofício e eu desenhei a pequena menina - vou preservar o nome dela. Quando entreguei o desenho ela, de repente sumiu. Quando percebi tinha um monte de crianças e eu fui fazendo caricatura de cada uma delas. Aí quando o culto acabou fui guardar o desenho. Ela me seguiu 'investigando' os cantos da nossa igreja, que fica bem em frente à praça. Por medo, ou respeito, ainda que eu desejasse, não abracei ela e educadamente a convidei para voltar no domingo.
Ela voltou mesmo e me procurou como 'o tio que desenha'.
Aprendi tanto com essa menina! Ela foi usada por Deus para falar comigo e agora invade minhas orações. Isso tudo incomoda e 'cutuca' à ação.
Ainda ecoa nos meus ouvidos:
-Tio 'cê' vai voltar?
90x70cm giz de cera e caneta esferográfica


5 de set. de 2016

Roda de conversa Odarah 3




Algumas barreiras foram 'impostas' pelo Evangelho de missão, importado da Europa e Estados Unidos.
 A linguagem desses 'gringos' era muito 'elitizada' e a exigência da leitura bíblica afastava os 'indoutos e iletrados'. Como vimos, a liturgia não tinha nenhuma conexão com a nossa cultura.
Até aqui parece que não houve nenhuma contribuição dos Tradicionais neste 'universo evangélico'. Ao contrário do que pode parecer, os Tradicionais conquistaram espaço e imenso respeito na perspectiva cultural de nosso país. Foi graças à perspectiva 'do livro' que escolas foram fundadas e edificadas. Tudo para facilitar o acesso à leitura. A educação musical clássica também foi implementada nas igrejas. Aqui vale a pena parar e pensar que a maioria dos músicos de nossas orquestras já percorreu o ambiente de uma dessas igrejas. O fomento dos cursos superiores e seminários também se deve ao estabelecimento dessa perspectiva religiosa baseado 'no livro'.

'Negro é o teu passado!"
A pergunta que naturalmente surge é: Por que então tão poucos Pentecostais participam do 'movimento negro' e das chamadas 'políticas afirmativas'?
Creio que um dos motivos é a leitura descontextualizada das escrituras e o conhecimento rudimentar do contexto bíblico e histórico. Como vimos, a grande maioria dos irmãos pentecostais não tem interesse de 'mergulhar' no texto bíblico e, em sua maioria, reproduzem o que foi ouvido sem reflexão. Eles aprendem que ser Santo é ser separado e pouquíssimas vezes entendem de que nos separamos. Separados de que? Separados de quem? Deveriam perguntar. Uma pessoa quando se 'converte' está separada do mundo. Mas de que mundo, se a Bíblia nos apresenta, pelo menos três perspectivas distintas deste conceito:
Mundo como conjunto de habitantes (Jo 3.16)
Mundo como valores humanos (Jo 15.19)
Mundo como planeta terra (Sl 24.1)
O segundo problema que vejo é pregação da falsa ideia de que 'todos somos iguais e que dentro da igreja não existe nenhum tipo de discriminação'. Só aceita este discurso quem ignora a realidade de nossa sociedade. Este é um ideal bíblico e não a realidade. A sociedade influencia a igreja e a igreja deveria assumir um papel profético para influenciar a sociedade em que está inserida.
Também creio, por isso deixei o movimento negro, que Jesus nunca nos ensinou a ser, nem a estimular a cultura de gueto. Somos, pelo menos deveríamos ser, o corpo de Cristo sem distinção nenhuma. 
Quero defender estes valores, estes ideais do Cristo a quem sirvo. 
Não ao Racismo!
Não à separação, seja ela qual for.
Não aceito esse papo furado de 'preto com alma branca' em 'tem neguinho que'. Sempre que ouço esse tipo de 'brincadeira', faço questão de afirmar que 'tem neguinho e tem branquinho' também.
Todos pecaram. 
TODOS. 
Todos os que creem podem ser salvos, libertos e transformados. 
TODOS.




'Às vezes o ponto de vista tem certa miopia,
Pois enxerga diferente do que a gente gostaria
Não é preciso por lente nem óculos de grau
Tampouco que exista somente
Um ponto de vista igual

O jeito é manter o respeito e ponto final" Ponto de Vista, Casuarina


Terminei minha participação citando MPB na música do Gilberto Gil. 
Andar com fé eu vou,
que a fé não costuma "faiá"

Que a fé tá na mulher 
A fé tá na cobra co-ral 

Ô-ô 
Num pedaço de pão 

A fé tá na maré 
Na lâmina de um punhal 

Ô-ô 
Na luz, na escuridão 

Todos andamos 'com fé' e o segredo não é ter fé. Creio que o verdadeiro desafio é saber onde colocamos nossaa fé. Escolhi colocar minha fé do Deus que se revela em Jesus Cristo.

Roda de conversa Odarah produção cultural 2

'Meu púlpito é minha prancheta' e o quadro tem sido 'minha muleta'.
Necessito pensar graficamente e a apresentação ilustrada tem me acompanhado nesse trajetória.
1. Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa
Por que será que a mídia e os discursos sobre 'os evangélicos' são tão pesados e vergonhosos dentro de nossa sociedade? De forma muito crítica, creio que há uma intenção política por trás dessa 'massificação' evangélica. Incrível que sejamos milhares os que fazem questão de afirmar: isso não me representa. Não é nesse 'evangecalismo' que eu creio. É claro que não. Não fomos, em momento nenhum chamados de 'os evangélicos' pelo nosso mestre. Jesus também nunca nos chamou de 'os cristãos'. Cristão, como você deve saber (At 11.26), é apelido para os que imitavam a Cristo. A expressão 'evangélico' é uma elaboração americana para revelar os que seguiam o 'Evangelho', as Escrituras. Cristo nos chamou de discípulos, seguidores, alunos. Somos imitadores de Cristo. Sendo imitadores fazemos e nos relacionamos da maneira como o mestre fez e ensinou. Pelo menos deveria ser este o padrão.


Olhe o esquema comparativo. As igrejas Tradicionais (Congregacionais, Batistas, Metodista e Presbiterianos) estão ligados às missões enviadas da Europa e da América que são, na realidade, 'representantes' da Reforma Protestante. 
Tradicionais dão valor à História da Reforma, por isso dão valor a leitura, ao 'Livro' às Escrituras. Valorizam muito mais a mente e a reverência e os seus oficiais devem ter, além do reconhecimento da comunidade o conhecimento bíblico, pelo menos o 'manejo da Palavra da Verdade'. Neste momento era impossível não trazer à fala a forte imagem de meu avô sendo alfabetizado para poder ser ordenado diácono, da década de 70 na Igreja Batista de Vieira Fazenda, dentro da favela do Jacarezinho. Finalmente a liturgia e a música valorizam a reflexão e as músicas acompanhadas de 'instrumento sacro' - órgão.
Num paralelo vertical observamos que os Pentecostais valorizam mais o 'marco revestimento de poder' no episódio narrado no Livro de Atos e profetizado por Joel, no AT. O Poder do Espírito sobre toda carne'. Valem-se mais da experiência do que do 'Registro da revelação'. Usam mais o coração do que mente reflexiva e não há exigência de uma formação ou conhecimento sistematizado e formal. Além de tudo isso qualquer expressão de 'envolvimento com o Espírito' é respeitada e espalhada por toda congregação. A utilização dos instrumentos é livre e a liturgia dá espaço de voz e vez para todos os membros.

'Lá vem o negão"
Olhando o gráfico, creio que fica claro o motivo que 'seduz' os negros, especialmente os menos favorecidos, afastados do acesso à cultura e distantes das expressões clássicas das músicas importadas.

Roda de conversa no Odarah Cultural 1

Vivi uma experiência incomum e inesquecível no último sábado, dia 3 de setembro.
Fui convidado para participar de uma 'Roda de conversa' sobre A RELIGIÃO MAIS PRETA DO BRASIL junto com a mediadora Fabíola Oliveira que é produtora executiva do Odarah Produção Cultural afirmativa e o  Babalawo Ivanir Dos Santos (CEAP - Centro de Articulação de Populações Marginalizadas) 




Começo perguntando: 'QUAL É O GRUPO RELIGIOSO QUE TEM O MAIOR NÚMERO DE INTEGRANTES QUE SE ASSUMEM NEGROS, NO BRASIL?'
(    ) O Candomblé    (    ) A Umbanda    (      ) Os Evangélicos   (      ) Os Católicos

Se você escolheu o grupo dos evangélicos, acertou.
De acordo com o Censo do IBGE de 2010 é massacrante a quantidade de negros nas religiões evangélicas, especialmente no grupo denominado Pentecostal.

IBGE 2010 
População                     190.755.799
Evangélicos                     42.275.440
Umbanda e Candomblé         588.797

Foi fundamentado nesta informação e tantas outras que li o livro, 'A religião mais negra do Brasil - por que os negros fazem opção pelo Pentecostalismo', de Marco Davi de Oliveira, reedidado em 2015, pela Editora Ultimato

Apresentei minha fala em três tópicos:
1. Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa
O objetivo foi 'abrir o saco' e mostrar que existe uma pluralidade imensa no 'saco em que enfiaram 'os evangélicos'.
2. "Lá vem o 'negão'..."
Porque os negros fazem opção pelo Pentecostalismo?
3. 'Negro é o teu passado'
Afinal, se somos tantos, que discurso afasta os negros do movimento de igualdade e quais os desafios para o engajamento?

9 de mai. de 2016

Congresso da Família - VIDA NA REDE

A proposta do Congresso de Famílias deste ano em nossa igreja foi estimularmos à reflexão sobre a influência da Internet, das novas tecnologias e das mídias sociais no ambiente familiar.
Nosso objetivo não foi nem é ‘demonizar’ o progresso tecnológico. Até porque estamos num mundo ‘mergulhado na rede’.
No entanto, a despeito das incontáveis vantagens oferecidas, a ‘grande rede’ traz também, alguns problemas. Podemos ver maus usuários que costumam explorar a internet para perpetrar atos nefastos, criminosos e indesejáveis. Estelionato, pedofilia, ciberbullying e outros crimes, representam apenas algumas das mais variadas infrações que englobam este mundo virtual. Outro problema vivido intensamente tem sido a falta de contato direto entre as pessoas. O mundo tem se tornado virtual. Ninguém vive hoje sem um celular.
Este foi um tempo de excelente oportunidade, bem contextualizada, para destacarmos valores bíblicos, e portanto, valores humanos. Nossa meta foi valorizar a criação divina a ponto de resgatá-la, o que é o propósito da obra de Cristo (2 Co 5.17).
A ‘brincadeira’ gráfica e fonética com a REDE teve como objetivo destacar que não devemos ser ‘dominados’, presos ou controlados pela rede/web mas, mesmo inseridos nela (Jo 17.16), devemos viver de forma abundante (Jo 10.10). Somos pescadores. ‘Pescadores controlam a rede’.
"Navegue mas não afunde!"

Os Cartazes:

 

Fizemos dois cartazes. Um para o Congresso e outro para atividade especial de sábado. Nosso preletor, durante a semana foi o pastor João Melo da primeira igreja batista de Vila da Penha aceitou o desafio e nos abençoou com três palestras intrigantes e cativantes.



  

No sábado à tarde tivemos os pequenos grupos e uma gincana especial. Esta foi uma proposta totalmente nova e, por isso mesmo, a expectativa era grande pela adesão dos membros da igreja. 
Foi muito emocionante observar as crianças se divertindo com brinquedos que não eram eletrônicos - esta foi uma das tarefas compartilhadas durante a semana. Eles interagiram muito bem e descobriram novas alternativas para a diversão em grupo. Além disso o setor infantil abraçou a ideia de desenvolverem o mesmo tema estimulando as crianças a pensarem sobre a 'VIDA NA REDE" dentro o universo delas.
Caminhando para o final da tarde nos reunimos para uma grande Gincana, coordenada pelo Marcílio. Ao final do Congresso apresentamos um novo desafio - O PROJETO PENSE LARANJA e, antes da pizza (também as que as crianças produziram) a 'ginastiquinha'.



Fazendo pizza

Hora da gincana

PG adolescentes com Cassia Borges

subgrupo PG dos adultos - Anna Viveca

subgrupo PG dos adultos - Anna Viveca

subgrupo PG dos adultos - Anna Viveca

subgrupo PG dos adultos - Anna Viveca

PG 3a idade - facilitadora Danielle Medeiros

Ginastiquinha antes da pizza


Grupo de trabalho para o Congresso da Família:
Hudson e Marilia, Marcos e Jaqueline, Alexandre e Eliane, Eli e Beth, Rolant e Christine, Danielle e Helder, Marcio e Bruna, Damião e Dayse, Harley e Raquel, Mario Marcio e Fabiana, Pr. Daniel e Adriana e Pr. Marcelo e Anna






22 de abr. de 2016

Nó direito e o Mario Marcio Verissimo

Ainda estou sob o impacto do falecimento do Mario Márcio Veríssimo. Ouvi, vi e experienciei vários comentários sobre ele e, confesso, não esperava nada diferente. Ele deixou marcas. Marca de alegria, paixão pulsante, paternidade envolvente e vida, muita vida. 
É impressionante perceber como a morte é uma agressão à vida e como a vida insiste em gritar presente mesmo em momentos como estes. Não nascemos para a morte mas somos escravos dela pela condição de pecadores. Mario também deixou marcas em mim. Não dessas experiências que quase entronizam as pessoas com os anjos. 
Marca de verdade é feita com história de dor. Hoje esta marca é uma cicatriz. Não é ferida aberta mas a marca está aqui para denunciar a presença dele e a restauração divina. Nos desentendemos feio. Creio que foi a maior tensão que vivi no espaço eclesiástico. Não foram poucos dias sem conseguir cantar. Gritamos um com o outro, nos ofendemos e, pela instrumentalidade do pastor Novaes, nos encontramos para 'colocar as cartas sobre a mesa'. O encontro foi feio. Saiu faísca pra todo lado. Saí daquele encontro com 'um bico'... Aí, depois de mais uma noite sem sono, comecei a perceber que estávamos discutindo, brigando, quase nos atracando fisicamente e estávamos com o mesmo objetivo. E, mais do que isso, percebi que a gente só briga porque se importa. O que nos incomoda é, de alguma forma, algo nos afeta. O que ignoramos não nos afeta. Tomar consciência disso me fez perceber que o admirava. Antes desse 'entrevero' conseguíamos conversar sobre o desenvolvimento dos meninos, sobre o mistério de ser pai, sobre a administração da saúde diante de doença crônica e até, do por incrível que pareça, sobre futebol. E isto não era nada simples. Eu torcedor do Flamengo e ele, como todo mundo sabe, apaixonado vascaíno. Lembrei disso tudo e percebi que, no fundo, queríamos investir no fortalecimento das famílias, cada um do seu jeito, cada qual sob seu ponto de vista mas os dois com o mesmo intento. 
Naquela noite eu consegui orar. Orar por mim, agradecer pelo Mario e ter coragem de perdoar, abrir mão (isso é complicado...) e pedir perdão. Comecei a perceber que tínhamos muito mais semelhanças do que diferenças. Fiquei mais leve quando falei com ele. Ele, sempre muito verdadeiro, não aceitou as desculpas nem quis falar comigo. Aí vi, de forma muito explicita, que 'passei da conta'. Em nome do zelo, da doutrina, da tradição passei por cima. Passei por cima de um irmão e Deus nunca, nunca me estimulou a fazer isso. Não insisti. Fiquei quietinho e deixei o tempo passar.
Eu não tinha mais problema para orar, nem para cantar mas, de alguma forma, o Mario sempre estava ali em minhas orações. Num domingo, nem sei qual, ele falou comigo de forma bem fria: 'e aí, beleza?" Respondi que não, e emendei logo que não tinha raiva dele. O tempo passou, deixei a coordenadoria da família por dois anos e, quando fui convidado à voltar, falei com ele antes. Perguntei o que ele achava da indicação, ainda disse que necessitava dele e que também desejava ter sua presença, sua paixão e sua alegria contagiante como parceiro neste ministério. Ele, prontamente se dispôs a ajudar.
Hoje, chorando no culto fúnebre e cantando 'você pode ter a casa repleta de amigos, paredes e pisos cobertos de bens...,mas nunca terá a paz que existe lá dentro que não se encontra pra poder comprar, porque esta paz só tem a pessoa que se encontra com Cristo", louvei a Deus pela vida do Mario Márcio, pelo pastor Novaes e, especialmente porque Deus me ensinou muito, muito mesmo através da vida do Mario. Pessoas valem mais. Pessoas são maiores e mais importantes que instituições. Nenhum zelo justifica a falta de amor. Louvei a Deus porque não ficou ferida aberta entre nós. Louvo a Deus porque tive oportunidade de atar um laço e desfazer um nó. A cicatriz está aqui mas ela serve para eu lembrar dele e lembrar que o Senhor me ensinou a perdoar porque eu também recebi perdão.



15 de abr. de 2016

Roseli e a sabedoria do 'Selah'

O maior livro bíblico é uma coleção de poesias.
Todos nós sabemos que poesia é coisa de gente. Atividade natural de gente sensível à realidade histórica, às circunstâncias, aos sentimentos, à vida. Por isso mesmo a Bíblia contém salmos de angústia, salmos de lamento, salmos políticos, salmos de peregrinação, salmos de louvor, salmos de gratidão, salmos de alegria.Vale a pena lembrar que somos humanos e a bíblia deixa muito claro, em sua essência, que essa humanidade não deveríamos perder. Sentimentos não deveriam ser ignorados nem rejeitados mas administrados com sabedoria.
Observe alguns s versículos do Salmo 66, um salmo de alegria:

Todos juntos aclamem o Senhor — aplausos para Deus! Cantem canções sobre a grandeza da sua glória, glorifiquem o seu nome em ritmo de louvor. Digam de Deus: “Nunca vimos nada parecido com ele!”.
Observem as maravilhas de Deus — elas são de tirar o fôlego. Ele converteu o mar em terra seca, e os viajantes atravessaram o rio a pé. Ora! Não seria esse um bom motivo para cantar?
Não nos pôs ele no caminho para a vida? Não nos impediu de escorregar? Ele nos treinou primeiro, passou-nos como prata pelo fogo refinador: Todos os fiéis, venham aqui e ouçam: permitam-me dizer o que Deus fez por mim. Dos meus lábios saiu um grito; da minha boca, uma canção.
Mas ele me ouviu, ele veio me ajudar assim que ouviu a minha oração. Bendito seja Deus, que não se fez de surdo, mas ficou do meu lado, porque me ama e é leal!

Sob um perspectiva poética, cada vida é, um salmo, uma música, um filme, uma poesia.
A vida da minha amiga Roseli Lassarot é uma bela poesia. Poesias de vitórias, de conquistas, de relacionamento, de valorização do ser humano, de amor.
Para ilustrar isso de forma didática transformei Roseli, com alguns riscos, num personagem para nos ensinar o que poderia ser a palavra SELAH.
Escolhi dar foco à expressão hebraica porque ela aparece várias vezes neste salmo e também percebi que ela ocorre em outros registros desse livro poético. Selah é uma `palavrinha' está lá no original e creio que pode nos ajudar e estimular à reflexão.
Selah causou muita curiosidade e fomentou inúmeras pesquisas. Existe unanimidade que este registro é um termo musical, isto facilmente foi aceito porque estas poesias eram, em sua maioria, letras de músicas. Então Selah é um sinal, um indicativo, um registro para uma expressão cultual. Mas nem tudo que se relaciona ao sinal é consenso. Os teólogos não chegaram a uma conclusão do que significaria `selah` para a música. São três vertentes muito fortes para este sinal:


SELAH pode ser uma PAUSA, ou interrupção para mudança
SELAH pode ser derivado de 'salal', que é LEVANTAR
SELAH pode também ser AMÈM (assim seja) concordando com o que acabou de ser cantado.

Foi a partir dessas informações que parei para pensar:
A vida, que já chamei de poesia, também nos oferece alguns desses 'sinais' que marcam o tempo. Os poetas bíblicos ensinam que 'há tempo para todas as coisas...' (Ec 3) e também que 'devemos aprender a registrar cada dia' (Sl 90.12)  ou 'que cada dia tem sua própria história' (Sl 96.2).
Sendo assim, existem períodos na poesia de nossa vida, em que deveríamos valorizar a pausa, a finalização de uma etapa. Em outros momentos o mais apropriado seria levantar, começar uma nova fase, deixar a chamada zona de conforto. E ainda, em alguns momentos, o ideal é pularmos de alegria, cantar alto e dizer amém, amém, amém. Momentos como o que vivemos num aniversário, táo especial, como o da minha amiga.
Minha oração é que a Roseli continue com percepção aguçada para saber a melhor atitude, o melhor `selah`que deve ser vivido para enfrentar as diversas circunstâncias da vida.

30 de mar. de 2016

Muito prazer, meu nome é Ana

Meu nome é Ana. Esposa de Elcana. Marido amoroso, mesmo eu não lhe dando filhos. Minha infertilidade fez Elcana casar-se com Penina. O regime de bigamia era legal e tive que conviver com a segunda esposa de Elcana. Continuei sendo a esposa amada de Elcana e isso despertou ciúme e inveja em Penina. Dia-a-dia ela me irritava. Lembrava-me sempre da minha condição de esterilidade. Eu sofria calada. Já não dera filhos a Elcana, não podia me tornar uma mulher richosa. Estava deveras triste. Imagine meu tormento: A mulher que não dava descendentes ao marido era considerada indigna e logo suspeitavam de algum pecado. Eu não pecara, mas Deus havia cerrado minha madre e ainda tinha que aguentar as picuinhas de Penina. Éramos muito religiosos. Obedientes as leis íamos anualmente ao Tabernáculo, em Siló. As ofertas queimadas e os presentes que Penina recebia, por cada filho que possuía, era exibido por ela de forma a me afrontar. Meu marido também me dava presentes, e isso aumentava ainda mais a inveja de Penina. Meu espírito se esmoreu e se abateu com esta situação. Não conseguia comer. Meu marido percebeu minha tristeza e questionou-me se não era bom marido. Se ele não me dava segurança como se dez filhos tivéssemos!! Ah!! Ele me amava, mas não entendia minha indignação. Eu busquei Deus. Em jejum, no Tabernáculo, me derramei diante do Senhor clamando e pedindo que me desse um filho homem e me livrasse de tanta vergonha e humilhação. Orei tão fervorosamente que gesticulava e movimentava meus lábios, sem emitir som algum, para não despertar a atenção dos outros. Eis que o Sacerdote me observou, se aproximou e me repreendeu achando que estivesse embriagada. Imagina!! Eu era uma mulher triste e aflita. Eu viera para orar e buscar em Deus, uma benção. Disse-lhe que fizera um pedido e uma promessa a Deus. Não para manipular ou para obriga-lo a me atender. Não!! Eu sou uma serva fiel. Deus conhece meu coração. Então Eli dispensou a benção sacerdotal e me mandou embora. Minha fé foi fortalecida. Em casa, não me deixava mais abater pelas circunstâncias. Como serva devota eu aguardava o tempo de Deus para minha benção chegar. Meu coração se alegrou de tal maneira que a beleza estampou o meu rosto. Meu marido desejou estar comigo. Ah! O Senhor lembrou-se de mim e concebi um filho. Seu nome: Samuel, significa "Pedido a Deus". A família estava completa. Samuel não era o primogênito de Elcana, mas seria o filho usado para servir a Deus, como eu havia prometido. Samuel seria Nazireu desde o seu nascimento e por toda vida. Seus cabelos não seriam cortados e cresceria sob os cuidados de Eli para aprender a servir a Deus. E Elcana sabedor de tudo que se sucedeu, concordou comigo. 




Chegado o tempo de ir à Siló para as ofertas pedi consentimento a Elcana para ficar em casa com Samuel até que fosse desmamado. Mais uma vez Elcana foi compreensivo e concordou comigo. Decorridos três anos, Samuel desmamado, era tempo de ir ofertar, em Siló. No Tabernáculo, levei o menino a Eli. Senhor!! Lembra-se de mim?! Sou aquela mulher devota a quem o Senhor abençoou. Deus atendeu minha oração e me deu o filho homem que pedi. Agora trago-o para ser criado na Casa de Deus, e cumprir minha promessa, todos os dias de sua vida. Agradecida à Deus cantei e louvei a Deus que tudo sabe. Ao Deus que pesa nossas ações e nos abate e eleva. Samuel ficou. Voltei para casa com a missão de interceder por meu filho. Orei para que Deus o abençoasse e o livrasse da influencia das práticas erradas dos filhos de Eli. E Samuel servia a Deus e crescia em estatura, e tornava-se o predileto de toda gente. Ano após ano eu levava uma túnica de linho igual ao manto do Sacerdote, para Samuel vestir. Abençoados por Eli tivemos mais três filhos e duas filhas. Depois de muito tempo sem falar diretamente com os profetas, Deus manifestou sua Palavra à Samuel, em sonho. E eis que Samuel se tornou o último juíz de Israel, abençoado e usado poderosamente por Deus. Para encerrar este testemunho digo que o marido deve amar sua mulher. Digo que o Império da mulher casada é seu lar. O casal deve orar junto. Devem ser concordantes nos pedidos e votos que fizerem diante de Deus. Não murmurem. Não olhem as circunstâncias. Não deixem as almas se abaterem. Derramem-se sem reservas, ao Senhor, pela sua família. Sejam obedientes. E Deus concederá o desejo dos seus corações. Alegrem-se no Deus da sua salvação que é onisciente, onipotente e onipresente. Estejam dispostos a entregar-lhes seus planos e a cumprirem sua divina vontade. Prontifiquem-se em serem canal de benção onde vocês estiverem. Deus é fiel e será louvado

texto de Raquel Soares

16 de mar. de 2016

Muito prazer, eu sou Abraão

Nasci em Ur, mas depois de casado com Sarai, sai com meu pai, esposa e sobrinho para Harã. Ali meu pai faleceu e o Senhor mostrou-me o caminho a seguir. Passei pela terra prometida e fui ao Egito. Ali prosperamos, mas fomos banidos, pois menti ao faraó dizendo ser Sarai minha irmã, não esposa. Voltamos a Canaã e separamo-nos meu sobrinho Ló e eu.
O Senhor já havia prometido fazer de mim uma grande nação, mas minha esposa era estéril. Esperamos pela promessa e como ela não se cumpria, decidimos então que eu me deitaria com uma das servas de minha esposa, Agar. Deste ato nasceu Ismael. Cria que este seria o descendente prometido por Deus, contudo o Senhor tinha outros planos. Estabeleceu, pela circuncisão, um pacto comigo. Ele mudou meu nome para Abraão e o de Sarai para Sara. Ele tocou minha esposa e esta, mesmo em idade avançada, concebeu a Isaque.
Temendo pela vida de Isaque, e convencido por Sara, expulsei Agar e Ismael do acampamento. Estava certo que o Senhor os protegeria, pois me prometera fazer de Ismael também uma grande nação.
Isaque crescia em estatura e sabedoria e então o Senhor colocou-me à prova. Mostrou-me o local onde faria um holocausto. Conduzimos, Isaque e eu, todo o material, exceto o animal a ser sacrificado. Isaque desconfiou, mas eu nada lhe disse. Teria que sacrificar o filho que Deus me prometera. Aquilo me apertava o peito e inquietava minh’ alma, mas como não cumprir Sua ordem?
Isaque percebia o que estava para acontecer, mas não fugiu ou se deixou abater. Ele confiava em mim, como eu confiava no Senhor. Estava prestes a dar o golpe fatal, quando Deus me impediu. Ele estava satisfeito com a minha fidelidade a Ele. Proveu-nos de um cordeiro, fizemos o holocausto e adoramos ao Senhor.

Aos 137 anos de idade perdi minha esposa, mas ganhei uma nora. Rebeca desposou meu filho e me deram netos. Casei-me novamente e tive mais 6 filhos. E aos 175 anos o Senhor me chamou.

Texto de Walcício Soares

2 de mar. de 2016

Vocação e chamada 3

Voltei  ao STBSB porque fui, 'cutucado'. Quando deixei o seminário em 1984, sei que foi uma tristeza para minha família. Meus pais, meus irmãos nunca reclamaram diretamente porque sabiam que eu 'gostava de arte'. Cada vez que me perguntavam o porquê,  eu respondia: fiquem tranquilos eu 'sou crente' e só quero servir ao Senhor do meu jeito. A cada igreja, em cada comunidade a que pertenci, me envolvia, logo 'virava' professor de EBD e então, obrigatoriamente estudava a Bíblia. Assumi cargos de liderança e, profissionalmente desenvolvia minha vocação. Tão novo, com cerca de 30 anos substituí meu amigo e querido pastor João Falcão Sobrinho, em um período em que ele esteve enfermo, enquanto atuava como primeiro vice- presidente na PIB de Irajá. Agora, mais velho, carrego a imensa responsabilidade de ocupar a vice presidência desta igreja, tendo o pastor Carlos Novaes na liderança. Inúmeras vezes ouvi as pessoas me chamarem de pastor. Sempre recebi como manifestação de carinho. Porém, todas as vezes em que ouvia ou me imaginava pastor, me lembrava da fala da Marilia: 'não quero ser esposa de pastor'. Cada vez que ficava incomodado com isso fazia uma transferência total do problema para Deus. Dizia eu: 'Senhor, sei que ela é a minha esposa. Sei que ela é presente Teu para minha vida. Sei também que, depois do Senhor, ela é a prioridade em minha história. Então, 'resolve este problema', eu orava. 'Quando o Senhor quiser estou aqui, mas fala com ela Senhor!' Orava assim, de forma infantil, para eu não ficar envaidecido com a sedução pastoral. O tempo passou e deixei de orar sobre isso. Parei de orar entendendo que o que deveria fazer era servir. Fui chamado para servir ao Rei Jesus como pudesse e onde estivesse. E quero dizer que ainda creio firme e confiadamente nisso.
Mas, em setembro no ano passado, substituindo o pastor Novaes num convite recebido para ser o preletor no Retiro de Casais na PIB de Vila da Penha, ocorreu o inesperado. Todo material de divulgação e as imagens da projeção estavam com a apresentação do 'pastor' Hudson. Logo que vi, tive o cuidado de, antes da primeira noite, falar com o pastor da Igreja,  pastor João, que eu não era ordenado pastor e que ele deveria, por favor, fazer esta justificativa para os retirantes. Falei isso, porque, pouco tempo antes, fazendo um série de sermões na igreja de meu amigo, Pr. Isaías , no DF, fui por muitas e muitas vezes chamado de pastor, e a cada vez me sentia constrangido com a situação. Ouvindo isso, o pastor João Melo disse, de forma muito amigável e simpática, que não iria mudar nada. Ali eu seria o 'pastor' daqueles casais. E ainda disse, perto da Marilia, que eu deveria assumir meu ministério e entender que meu rebanho eram as pessoas que nós cuidávamos na igreja. Então, respondi, com o 'jeito Hudson de ser', que a igreja da Vila da Penha era dele e ele é quem mandava: se era para ser 'pastor', e eu obedeceria. Eu, Marília , pastor João e sua esposa Priscila rimos juntos e conversamos um pouco naquela varanda antes da primeira noite de retiro. Pela misericórdia do Senhor, tudo correu muito bem. Só que, na volta para casa, depois de tantas vezes ouviindo as pessoas me chamando de pastor  naquele retiro, Marilia me disse: 'Amor, vamos resolver isso logo! Pare de palhaçada e peça logo para ser ordenado pastor!' Como assim? - perguntei. Ela disse que eu já era 'pastor', que a maioria das pessoas já me viam assim e que não daria para ficar adiando mais este referendo eclesiástico. Ela disse que, do que jeito que estava, parecia que estávamos sustentando uma mentira e enganando os irmãos. Perguntei brincando, se ela não tinha tomado o seu 'remedinho'e fiquei quieto. Não contei a ela sobre as minhas orações do passado. Confesso que achei que ela iria esquecer logo daquela  conversa . Mas, qual não foi a minha surpresa quando ela voltou ao assunto naquela mesma semana, cobrando a minha ligação para o pastor Novaes pedindo a ordenação. Conversamos muito. Contei toda esta história para ela e perguntei se não a estava traindo. Ela disse que não e que ficaria em paz se eu fizesse isso. Só então liguei para o pastor, que naquele mesmo dia marcou a apresentação da proposta para a assembléia da igreja. E assim, aqui estou. Continuo crendo que todos somos vocacionados e que desejo servir a Deus. Creio que só se serve a Deus servindo às pessoas. Não quero pensar em sustentar uma mentira, iludir o povo de Deus e, muito menos alimentar 'a aparência do mal' na cabeça dos irmãos.

Fim. Para entender toda a história sugiro ler Vocação e Chamada (neste blog) 1 e 2

Vocação e Chamada 2

Mesmo com a 'ameaça' de perder a namorada, fui para o STBSB em 1984. Fiquei por seis meses morando no espaço chamado de "Navio Negreiro'. Saía do trabalho e me deslocava para as aulas noturnas, no curso que apelidavam de 'cipó' (porque o aluno anda sempre pendurado). Graças a Deus conheci professores que foram muito além de depositantes de conhecimento em sala de aula. Foram educadores na acepção máxima da palavra. Gente como o professor Silvino Neto, professor que me ajudou muito. Foi o professor Silvino que me estimulou a entender que Deus vocaciona a todos.Ele questionou:por que não servir a Deus com o dom que ele te deu? Fui com a pergunta para o 'Negreiro' e resolvi 'fazer as 'malas'. Decidi prestar vestibular para Artes Plásticas no Instituto Bennett. Fiz a prova, passei em primeiro lugar por conta da prova de habilidade específica e deixei definitivamente o STBSB. A cada dia de aula na faculdade de artes me sentia mais próximo da vontade divina. Me encontrei como cidadão, como ser humano, como arte-educador e, por incrível que pareça, como cristão. No final do curso, depois de cinco anos de namoro com a Marília, resolvemos nos casar.
A cada dia uma dádiva! São mais de vinte e sete anos e minha casa é um abrigo para minha alma. Nosso filho, tão querido, é exatamente que o seu nome significa: um presente de Deus. Entreguei ao Senhor a minha vida e depois, como é natural, perguntei: e agora, o que faço? Fui fazendo o que sabia. Nunca tive dúvidas de minha vocação e chamada. Fui desenhando e servindo. Servindo a Deus com o desenho. Desenho para JUERP, desenho para UFMBB, desenho para JMM, desenho para JMN e desenho para JUMOC e JURATEL. Aprendendo muito com toda literatura, com os redatores, com o retorno dos leitores. No entanto, cresci também profissionalmente fora da denominação. Fui premiado por dois de meus trabalhos feitos para uma editora secular. Todavia, por uma  perspectiva errada de Reino, decidi largar tudo. Assim, pedi demissão desta editora e, com essa decisão, perdi cerca de 30% de nossa renda familiar, Marília estava comigo nisso. Fomos para Campinas, trabalhar na JUMOC. Lá aprendemos muito. Muito mesmo.
Quando completei quarenta anos de vida, aqui nesta igreja, num final de culto matutino, pastor Novaes conversou rapidamente comigo, aqui na frente, e me instigou a voltar para o STBSB. Que responsabilidade!! Disse que não queria pensar nesse negócio de ser pastor. Ele me respondeu que tinha dito que era para eu voltar ao seminário e não para ser pastor. Voltei. Tive o prazer de ser um dos mais velhos da turma (kkk). Que período abençoador, desafiador e de grande aprendizado! Cutuquei muito meus colegas de turma, critiquei muito a instituição (criei um jornaleco chamado de "A Mula de Balaão' para denunciar as 'bobagens' que os futuro pastores faziam na 'Colina'). Dez anos se passaram. E eu estou aqui, enfrentando um concílio para o ministério pastoral.

Continua em Vocação e chamada 3

Vocação e Chamada 1

Cresci na igreja. Fui forjado numa igreja batista e, especialmente na organização Embaixadores do Rei. Lá passei por todos os postos. Desde Candidato até o último dos postos superiores - Embaixador Plenipotenciário. Num dos famosos acampamentos de verão no Sítio do Sossego, que sempre acontecia em janeiro, havia o que era chamado de 'a tarde da decisão'. O Pastor Francisco Antonio de Souza, missionário da JMM nos Açores, era o pregador convidado daquele acampamento. Aquele ano, naquela tarde, parecia que Deus estava falando diretamente comigo. Me decidi. Quando fui à frente encontrei dois amigos de Embaixada. O pastor Levi Melo e o Edmilson Guerra. Amigos de igreja, de embaixada e futebol. Futebol na igreja e fora dela, fazendo testes e sonhando ser jogador profissional. Tínhamos entre 14 e 15 anos e o relatório daquele acampamento na igreja era de três vocacionados. A igreja nos acolheu carinhosa e orgulhosamente. Eu achava que Deus estava me chamando para ser pastor. Era natural imaginar isso porque ser vocacionado por Deus naquela 'cosmovisão', era quase sinônimo de ministério pastoral. Cresci sendo observado, desafiado e mergulhado nessa vocação. Meu pai, nosso conselheiro, criou o mês dos ER. Fazíamos tudo na igreja. Desde o trabalho de zelador até, num domingo a pregação. Por isso, nosso pastor, pastor Waldir Guerra, nos orientou e ensinou como pregar para atuarmos nos cultos que eram realizados nos lares. No final do curso individualizado, o pastor apresentou um material que a JUERP produzia com folhetos com esboços de pequenos sermões.
Quando terminei o ensino médio passei no vestibular para artes na UFRJ mas não pude estudar 'no Fundão' porque o curso era de tempo integral e para enfrentar as aulas teria que pedir demissão do trabalho. Lógico que imaginei que Deus estava me 'conduzindo' para o Seminário. Mesmo assim, sem certeza, fiz uma prova para o CPOR (Corpo Provisório de Oficiais da Reserva) e não passei. Os reprovados do CPOR já estavam com a liberação do serviço militar bem encaminhada. Mas, para minha surpresa, algum oficial leu minha ficha do alistamento e percebeu que eu já era um profissional na área artística - comecei a trabalhar na JUERP com 14 anos como aprendiz do SENAI de artes gráficas. Na época eu já era  ilustrador de quatro revistas. Duas para EBD (Vivendo e Crescendo) e outras duas da União de Treinamento (União de Juniores e União de Adolescentes). Assim, fui 'agarrado' no serviço militar para desenhar 'mapas de guerra' como soldado do exército. Fiquei no emprego como freelancer e na caserna por dez meses.
Neste período conheci minha namorada, que hoje é minha esposa. A conheci por conta de um trabalho de arte - o painel para coroação de rainha das MR (Mensageiras do Rei) na igreja de minha colega de trabalho de JUERP, Marilda Pessanha. Ela era membro da IB de Vicente de Carvalho. Marilia, filha do pastor Genésio, meu superior na JUERP, tinha vida totalmente dedicada à igreja. Sempre muito estudiosa, crente fiel, compartilhava comigo os desafios e os trabalhos do Reino. Acompanhei seu desempenho como Rainha da Associação Ouro e seu brilhante desempenho como Rainha dos Adolescentes do RJ. Ela, então minha namorada, viveu intensamente minhas crises para ir ao STBSB. Devo ou não ir para o seminário? Aceito ajuda da igreja ou faço o seminário por minha conta? Dizia isso pensando que se fosse para uma faculdade a igreja não iria pagar nada. Conversávamos muito, ela sempre me apoiou, mas sempre deixou  que não queria ser 'esposa de pastor'.

Continua em Vocação e chamada 2

29 de fev. de 2016

Minha conversão

Fui apresentado ainda bebê na igreja Batista de Benfica. Quando fui levado à frente, ganhei um novo testamento que ainda guardo comigo. Vivia, como qualquer criança correndo no quintal e nos corredores da igreja. Meus amigos estavam ali, o terreno da igreja era o quintal da minha casa. No espaço do templo recebia carinho, ensino e atenção. Ir à igreja era uma satisfação. Lembro bem das farras no caminho, junto com meus irmãos. O percurso era muito longo para uma criança e nós eramos cinco. Meu pai com o Wagner no colo, minha mãe com a Bianca e eu , Evert e Thetis correndo no caminho. Coincidência ou não encontrávamos outros irmãos no caminho do templo e aí o prazer era ainda maior. Sou o segundo de um grupo de cinco irmãos. E foi na igreja que surgiu mais uma irmã. A amiguinha de minha irmã Thetis 'perdeu' o pai e foi 'abraçada' pelos meus pais e minha família. A Rose Liane passou a ser mais uma 'moleca' em casa. Primeiro nos fins de semana e depois, na adolescência, todos os dias.
Cresci sendo desafiado com as poesias para decorar, os versículos, a música e os 'deveres' de casa da classe da Tia Darlene Sheidegger "Cristo tem amor por mim com certeza creio assim..." ou 'por mim morreu Jesus..." Lembro que fui chamado atenção porque sempre que o pastor fazia o apelo e dava um jeito e ia à frente. Assim, antes de completar nove anos eu já havia pedido para ser batizado mas, naquele tempo, a recomendação era que nenhuma criança deveria ser batizada antes dos dez anos. Ouvi e me lembro bem disso numa das concorridas assembleias regulares da igreja. Minha professora de EBD me defendeu. Lembro bem dela ter ficado em pé e dado testemunho de minha 'vidinha de crente'. Quando fui 'sabatinado' diante da igreja em minha profissão de fé, naquela época deveríamos responder a qualquer pergunta do plenário, lembro que fui abraçado pelo pastor e, diante de todos, recebi um beijo da Tia Suzana Campelo. Fui batizado no primeiro batismo do ano que completei dez anos. E, em 31 de março de 1974 na igreja batista de Benfica, fui batizado pelo pastor Sérgio Paulo Azeredo Boechart
Com menos de um ano de batizado minha carta de transferência chegou à igreja Batista de Costa Barros. Senti um orgulho muito grande de ter meu nome lido na assembléia. "Recebemos a família do irmão Rubens', dizia o pastor Waldir Guerra e ao receber leu o nome do meu pai, da minha mãe e o meu, como membros transferidos daquela 'igreja irmã' ele  dizia, para a nossa.
Foi na igreja batista de Costa Barros que comecei minha caminhada como ER. E, depois de batizado é que experimentei a exata noção de conversão. Conversão é mudança de rumo. Mudança que é resultado de arrependimento e fé. Morávamos em Costa Barros e eu estudava na Pavuna. Não poucas vezes voltava a pé para casa a fim de economizar dinheiro da passagem. Comecei a 'me sentir' independente. Desenvolvi amizades bem diferentes das que eu tinha na igreja. Comecei a jogar bola depois da aula, a ficar muito sujo para voltar para casa e conseguir a casa de um amigo para 'maquiar' minha sujeira. Aprontava uma molecagem aqui, outra um pouco maior ali e assim desenvolvi uma vida 'bem moleque' longe de casa e uma vidinha comportada no espaço doméstico. Comecei a jogar futebol de forma apaixonada e para isso era preciso 'enfrentar' adversários sem medo. Comecei a me envolver em brigas e para não ficar fragilizado, 'colei' com os mais temidos da escola. Minha fama no colégio não era muito boa e num domingo, na praça de Costa Barros, enquanto o culto era feito na praça, os meninos e meninas iam distribuir folhetos. Eu, como estava no 'papel de crente' fui junto com todos os meninos, como costumava fazer. Na segunda feira meu 'amigo de farras' falou diante da classe da escola que eu era crente. Fiquei muito sem graça, não neguei e depois, no intervalo, fui 'tirar satisfação' com o 'segundo maior bagunceiro' da classe. Quem te disse que eu sou crente Renato? Eu vi. Ele disse e explicou: Passei de carro com meu pai, que era corretor de imóveis, e te vi com uma bíblia distribuindo folhetos. Fiquei arrasado e confirmei a história. Vivi profunda culpa, arrependimento. O sentimento foi semelhante ao do apóstolo Pedro ao esquivar-se enquanto o Senhor estava sendo julgado e surrado (Mt 26.33 e depois Mt 26.58). A lembrança do compromisso dos ER ecoava em minha mente com força avassaladora 'terei uma vida pura, corrigirei os meus erros, seguirei a Cristo o Rei. Se assim não for para que nasci?" Minha maior surpresa foi saber que o Renato também temia a Deus e frequentava a Igreja adventista do sétimo dia. Mudei de vida, de atitude e todos da classe começaram a comentar que eu tinha 'virado' crente mesmo.

20 de fev. de 2016

Ballet, arte e vida - Mariana Esteves 15 anos

A dança é uma das seis grandes artes.
A Música (som),
as Artes Cênicas - teatro, dança e coreografia- (o movimento)
a Pintura (cor),
a Arquitetura (espaço),
a Escultura (volume) e
a Literatura (palavra).

A arte é sempre uma expressão humana.
O ser humano foi criado à imagem de Deus. O poeta diz 'é o sopro do criador numa atitude repleta de amor'. Deus colocou um pouco de si dentro de nós. Somos a 'imago dei'- a imagem de Deus. Ele nos formou, assim diz a Escritura. Ele colocou em nós seu fôlego e nos tornamos 'alma vivente'. Corpo que tem vida! Vida que se manifesta no corpo.
E a dança? O que tudo isso tem a ver com a dança? A dança pode ser divertimento, pode ser uma forma ritual, ou pode ser arte.
Gosto de pensar que a arte é um processamento interno. Usamos mente e coração para fazer arte.
Se é processamento é fruto de uma essência que se revela, se expressa por meio da linha, do corpo, do som, da cor, do volume.
A arte nos torna mais humanos e, ao mesmo tempo, mais parecidos com Deus. É verdade. A primeira linha da Escritura já revela isto: 'No princípio Deus criou...' O poeta bíblico diz que 'Os céus manifestam a glória de Deus" (Sl 19.1). A arte é produzida pela criatura, a criatura carrega semelhanças com o Criador.
Creio que podemos traçar paralelos entre a arte e a vida.
A arte é movida por, pelo menos, quatro características:
PAIXÃO - Muita gente, você sabe, fica fascinada pela arte e diz: sou apaixonada por dança, por desenho, ou qualquer outro tipo de manifestação artística. A vida também é assim. Muita gente gosta disso ou daquilo outro quando vê, quando observa e admira os outros. Mas a arte e a vida são dinâmicas. Não dá pra ficar só na paixão, na admiração. A arte deve se transformar em impulso. Este impulso leva a coragem.
CORAGEM - A arte exige coragem. Coragem de ser. A coragem é aquele senso moral intenso diante do risco ou do perigo. A palavra coragem vem do latim, 'cor' que significa coração e a definição original era 'contar a história que você é com o coração'. Na arte e na vida é preciso ter coragem. Tem gente que passa a vida sem saber o que quer. Múltiplas paixões, milhares de desejos e nenhuma coragem. Só quem tem coragem assume o 'risco' da dedicação.
DEDICAÇÃO - Se tem algo que caracteriza o artista é a dedicação. Não dá pra pensar na execução sem esforço. Pensemos na música. Quem toca um instrumento sem ter passado por 'sofrimento'? Quem é que gosta de desenho sem nunca ter 'rasgado o papel'? Quem é que ama a dança, o movimento artístico, sem dor? Força e flexibilidade são frutos de treino, treino, treino. Gosto de pensar teologicamente. Deus criou o mundo e nos colocou nele com a tarefa de 'cuidar do jardim'. Ele nos abençoa mas nós elaboramos, criamos também. A vida é feita da parceria Ser humano e Deus.
REFLEXÃO - Finalmente a reflexão. Refletir é observar, é pensar bem. É ter a 'cabeça no lugar'. Diga, por favor, se algo nos caracteriza tão bem como humanos? A diferença entre o artista e o artesão está justamente aí. O artesão reproduz com imensa habilidade mas é só reprodução. O artista reflete. O dançarino vê diferente, o olhar do pintor é diferente.. Jesus disse: "se os seus olhos forem bons todo o seu corpo será iluminado'. Olhe para dentro. Descubra o 'sopro divino' em você. Deus é o criador. Ele transformou o caos e cosmos - palavra donde vem cosmético. Dito de outra forma, Deus transformou o desorganizado em belo.
O artista das bailarinas é Edgar Degas. Ele pintou a Classe de Ballet em 1874 disse:
Se pintar não fosse tão complicado, não seria tão divertido.



Minha oração Mariana Esteves é que você lembre sempre de quem te 'deu vida'. Lembrando do 'Duda' e da Rosana você vai lembrar de Deus. Você é dádiva divina para eles. Meu desejo é que você cuide muito bem da essência da vida. 
Toda árvore é reconhecida por seus frutos. 
Ninguém colhe figos de espinheiros, 
nem uvas de ervas daninhas.
O homem bom tira coisas boas do bom tesouro que está em seu coração, 
e o homem mau tira coisas más do mal 
que está em seu coração, 
porque a sua boca fala 
do que está cheio o coração".


15 de fev. de 2016

Gratidão

Só agradece quem reconhece. 
Quem reconhece, conhece novamente (re-conhece). 
Gratidão é uma dimensão da memória.
A memória do afeto.
Quem agradece faz bem ao outro e também a si.
Agradecer é criar laço é preservar história.
Infelizmente somos ingratos. 
Ingratos escondem a dependência. 

Já percebeu como é fácil culpar e como é tão difícil desculpar? Por que tanta dificuldade de agradecer?

E quando temos obrigação de presentar?
Isso é horrível!
Aí escolhemos o presente grande, aquele que aparece
ou ainda pior, 'catamos' um que recebemos e o 'empurramos' para frente.
Decepcionante mesmo é ouvir: 'o que você está precisando?"
Dá vontade de dizer: nada.
Ou se for politicamente correto: pense em mim. Eu tenho 'cara' de quê?
Onde foi que deixamos a visão da criança?
Aquela de quem pega a folha sem valor e transforma em buquê.
Somos tão insensíveis que perguntamos:
'Por que você está me dando isso menino?"
E a resposta vem com afeto ainda mais desconcertante:
'Porque quero."

Ser grato é ver-se agraciado.
Ser grato é ver Deus no outro.
Ser grato é ser interdependente.

E, por falar nisso,
há quanto tempo você não agradece?
Por que temos tanta dificuldade de dizer 'muito obrigado'?






Não se achou nenhum que voltasse e desse louvor a Deus, a não ser este estrangeiro?