5 de set. de 2016

Roda de conversa Odarah 3




Algumas barreiras foram 'impostas' pelo Evangelho de missão, importado da Europa e Estados Unidos.
 A linguagem desses 'gringos' era muito 'elitizada' e a exigência da leitura bíblica afastava os 'indoutos e iletrados'. Como vimos, a liturgia não tinha nenhuma conexão com a nossa cultura.
Até aqui parece que não houve nenhuma contribuição dos Tradicionais neste 'universo evangélico'. Ao contrário do que pode parecer, os Tradicionais conquistaram espaço e imenso respeito na perspectiva cultural de nosso país. Foi graças à perspectiva 'do livro' que escolas foram fundadas e edificadas. Tudo para facilitar o acesso à leitura. A educação musical clássica também foi implementada nas igrejas. Aqui vale a pena parar e pensar que a maioria dos músicos de nossas orquestras já percorreu o ambiente de uma dessas igrejas. O fomento dos cursos superiores e seminários também se deve ao estabelecimento dessa perspectiva religiosa baseado 'no livro'.

'Negro é o teu passado!"
A pergunta que naturalmente surge é: Por que então tão poucos Pentecostais participam do 'movimento negro' e das chamadas 'políticas afirmativas'?
Creio que um dos motivos é a leitura descontextualizada das escrituras e o conhecimento rudimentar do contexto bíblico e histórico. Como vimos, a grande maioria dos irmãos pentecostais não tem interesse de 'mergulhar' no texto bíblico e, em sua maioria, reproduzem o que foi ouvido sem reflexão. Eles aprendem que ser Santo é ser separado e pouquíssimas vezes entendem de que nos separamos. Separados de que? Separados de quem? Deveriam perguntar. Uma pessoa quando se 'converte' está separada do mundo. Mas de que mundo, se a Bíblia nos apresenta, pelo menos três perspectivas distintas deste conceito:
Mundo como conjunto de habitantes (Jo 3.16)
Mundo como valores humanos (Jo 15.19)
Mundo como planeta terra (Sl 24.1)
O segundo problema que vejo é pregação da falsa ideia de que 'todos somos iguais e que dentro da igreja não existe nenhum tipo de discriminação'. Só aceita este discurso quem ignora a realidade de nossa sociedade. Este é um ideal bíblico e não a realidade. A sociedade influencia a igreja e a igreja deveria assumir um papel profético para influenciar a sociedade em que está inserida.
Também creio, por isso deixei o movimento negro, que Jesus nunca nos ensinou a ser, nem a estimular a cultura de gueto. Somos, pelo menos deveríamos ser, o corpo de Cristo sem distinção nenhuma. 
Quero defender estes valores, estes ideais do Cristo a quem sirvo. 
Não ao Racismo!
Não à separação, seja ela qual for.
Não aceito esse papo furado de 'preto com alma branca' em 'tem neguinho que'. Sempre que ouço esse tipo de 'brincadeira', faço questão de afirmar que 'tem neguinho e tem branquinho' também.
Todos pecaram. 
TODOS. 
Todos os que creem podem ser salvos, libertos e transformados. 
TODOS.




'Às vezes o ponto de vista tem certa miopia,
Pois enxerga diferente do que a gente gostaria
Não é preciso por lente nem óculos de grau
Tampouco que exista somente
Um ponto de vista igual

O jeito é manter o respeito e ponto final" Ponto de Vista, Casuarina


Terminei minha participação citando MPB na música do Gilberto Gil. 
Andar com fé eu vou,
que a fé não costuma "faiá"

Que a fé tá na mulher 
A fé tá na cobra co-ral 

Ô-ô 
Num pedaço de pão 

A fé tá na maré 
Na lâmina de um punhal 

Ô-ô 
Na luz, na escuridão 

Todos andamos 'com fé' e o segredo não é ter fé. Creio que o verdadeiro desafio é saber onde colocamos nossaa fé. Escolhi colocar minha fé do Deus que se revela em Jesus Cristo.

Roda de conversa Odarah produção cultural 2

'Meu púlpito é minha prancheta' e o quadro tem sido 'minha muleta'.
Necessito pensar graficamente e a apresentação ilustrada tem me acompanhado nesse trajetória.
1. Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa
Por que será que a mídia e os discursos sobre 'os evangélicos' são tão pesados e vergonhosos dentro de nossa sociedade? De forma muito crítica, creio que há uma intenção política por trás dessa 'massificação' evangélica. Incrível que sejamos milhares os que fazem questão de afirmar: isso não me representa. Não é nesse 'evangecalismo' que eu creio. É claro que não. Não fomos, em momento nenhum chamados de 'os evangélicos' pelo nosso mestre. Jesus também nunca nos chamou de 'os cristãos'. Cristão, como você deve saber (At 11.26), é apelido para os que imitavam a Cristo. A expressão 'evangélico' é uma elaboração americana para revelar os que seguiam o 'Evangelho', as Escrituras. Cristo nos chamou de discípulos, seguidores, alunos. Somos imitadores de Cristo. Sendo imitadores fazemos e nos relacionamos da maneira como o mestre fez e ensinou. Pelo menos deveria ser este o padrão.


Olhe o esquema comparativo. As igrejas Tradicionais (Congregacionais, Batistas, Metodista e Presbiterianos) estão ligados às missões enviadas da Europa e da América que são, na realidade, 'representantes' da Reforma Protestante. 
Tradicionais dão valor à História da Reforma, por isso dão valor a leitura, ao 'Livro' às Escrituras. Valorizam muito mais a mente e a reverência e os seus oficiais devem ter, além do reconhecimento da comunidade o conhecimento bíblico, pelo menos o 'manejo da Palavra da Verdade'. Neste momento era impossível não trazer à fala a forte imagem de meu avô sendo alfabetizado para poder ser ordenado diácono, da década de 70 na Igreja Batista de Vieira Fazenda, dentro da favela do Jacarezinho. Finalmente a liturgia e a música valorizam a reflexão e as músicas acompanhadas de 'instrumento sacro' - órgão.
Num paralelo vertical observamos que os Pentecostais valorizam mais o 'marco revestimento de poder' no episódio narrado no Livro de Atos e profetizado por Joel, no AT. O Poder do Espírito sobre toda carne'. Valem-se mais da experiência do que do 'Registro da revelação'. Usam mais o coração do que mente reflexiva e não há exigência de uma formação ou conhecimento sistematizado e formal. Além de tudo isso qualquer expressão de 'envolvimento com o Espírito' é respeitada e espalhada por toda congregação. A utilização dos instrumentos é livre e a liturgia dá espaço de voz e vez para todos os membros.

'Lá vem o negão"
Olhando o gráfico, creio que fica claro o motivo que 'seduz' os negros, especialmente os menos favorecidos, afastados do acesso à cultura e distantes das expressões clássicas das músicas importadas.

Roda de conversa no Odarah Cultural 1

Vivi uma experiência incomum e inesquecível no último sábado, dia 3 de setembro.
Fui convidado para participar de uma 'Roda de conversa' sobre A RELIGIÃO MAIS PRETA DO BRASIL junto com a mediadora Fabíola Oliveira que é produtora executiva do Odarah Produção Cultural afirmativa e o  Babalawo Ivanir Dos Santos (CEAP - Centro de Articulação de Populações Marginalizadas) 




Começo perguntando: 'QUAL É O GRUPO RELIGIOSO QUE TEM O MAIOR NÚMERO DE INTEGRANTES QUE SE ASSUMEM NEGROS, NO BRASIL?'
(    ) O Candomblé    (    ) A Umbanda    (      ) Os Evangélicos   (      ) Os Católicos

Se você escolheu o grupo dos evangélicos, acertou.
De acordo com o Censo do IBGE de 2010 é massacrante a quantidade de negros nas religiões evangélicas, especialmente no grupo denominado Pentecostal.

IBGE 2010 
População                     190.755.799
Evangélicos                     42.275.440
Umbanda e Candomblé         588.797

Foi fundamentado nesta informação e tantas outras que li o livro, 'A religião mais negra do Brasil - por que os negros fazem opção pelo Pentecostalismo', de Marco Davi de Oliveira, reedidado em 2015, pela Editora Ultimato

Apresentei minha fala em três tópicos:
1. Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa
O objetivo foi 'abrir o saco' e mostrar que existe uma pluralidade imensa no 'saco em que enfiaram 'os evangélicos'.
2. "Lá vem o 'negão'..."
Porque os negros fazem opção pelo Pentecostalismo?
3. 'Negro é o teu passado'
Afinal, se somos tantos, que discurso afasta os negros do movimento de igualdade e quais os desafios para o engajamento?